Dia Mundial da Prevenção do Suicídio

Tema controverso, muitas vezes tabu, outras escondido da opinião pública e sem divulgação por encorajar outros que se encontram em momento de sofrimento, a ponderar pôr fim à própria vida.

A sensibilidade do tema não permite remetê-lo ao silêncio. Todas as vidas importam e o desespero que motiva alguns a terminar com a sua existência não deve ser sentido por ninguém. Cada um de nós pode contribuir para prevenir o suicídio ao falar do assunto, compreender as motivações inerentes, os sinais de alerta e as soluções para a sua prevenção.

Prevalência

A nível mundial, as mortes por suicídio são a 13ª causa de morte (com uma taxa de mortalidade por suicídio de 16 / 100.000 habitantes), sendo que:

Dos 15 aos 34 anos: são a 3ª causa de morte;
Dos 15 aos 19 anos: representam a 2ª causa de morte.

A Europa tem um maior número de casos de morte por suicídio, seguida de perto pelo Sudeste Asiático. Contudo, os países católicos apresentam uma menor taxa de suicídio. O enquadramento de Portugal, segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) refere uma taxa de 8 mortes por suicídio por 100.000 habitantes:

13 / 100.000 habitantes, no caso dos homens;
4 /100.000 habitantes, no caso das mulheres.

Por cada morte consumada por suicídio verificam-se cerca de 20 tentativas. Esta análise significa que só no nosso país, morrem 1430 homens e 440 mulheres por suicídio, mas 28600 homens e 8800 mulheres tentaram terminar com a sua própria vida.

Fatores associados à ideação suicida

Existem diversos fatores apontados que permitem explicar a desesperança e a perceção de impotência perante a vida, bem como, a incapacidade para contornar as dificuldades que a vida apresenta, nomeadamente:

Perda de Emprego;
Problemas Familiares;
Alienação em Relação ao Mundo Envolvente;
Perdas Pessoais Importantes;
Traumas;
Baixa Auto-Estima;
Stress.

Devemos dar especial atenção

Às faixas etárias dos 15-34 e 60-70 anos. Os primeiros representam um grupo inúmeras vezes desvalorizado, confundindo-se um grito de ajuda com mimo ou chamada de atenção. Na melhor das hipóteses (quando não consumado) consiste numa chamada de atenção para um problema grave, que levou a que aquele/a jovem se percebesse incapaz de resolver, pelo qual achou que não seria compreendido/a. Por sua vez, os mais idosos requerem particular atenção por assentar na faixa etária com maior incidência de morte por suicídio em Portugal.
Embora seja descrito como um momento de impulso, este não surge sem motivo aparente, nem em pessoas com uma boa saúde mental. Concomitantemente, a ideação suicida deve ser enquadrada num quadro clínico de Depressão Major, que pode ou não, estar associada a uma Perturbação de Ansiedade. Deste modo, devemos estar particularmente atentos às pessoas que se têm vindo a sentir tristes, que se isolam, que começam a despedir-se, a devolver tudo o que pertença a outros, que se desfaçam de algo muito querido e, por vezes, que demonstrem uma mudança drástica de humor, por exemplo, aparentar estar feliz de repente, como se nunca tivesse estado triste, desvalorizando a tristeza que sentia e sossegando os mais próximos para que o/a deixem sozinho/a.

Consulte um profissional da saúde mental

A importância de dar o nosso apoio é inquestionável e, de igual forma, procurar a ajuda de um profissional. Nestes casos, a melhor abordagem é a interdisciplinar, recorrendo a consultas de Psiquiatria e Psicologia, para que se possa estabilizar e explorar as origens do quadro depressivo major.
Este ano, a reflexão do tema exalta a importância devido à crise pandémica mundial. Alguns estudos estimam que 550.000 a 3.3 milhões de portugueses possam vir a sofrer de algum problema de saúde mental, com particular enfoque nas pessoas com alguma vulnerabilidade ou diagnóstico de Depressão e Ansiedade (isoladas ou associadas a outras patologias), Perturbação de Stress Pós-traumático e Trauma.
Se alguma vez lhe passou pela cabeça que a vida não valia a pena ser vivida ou está a passar por isso neste momento:

Peça ajuda!

Artigo redigido pela Dra. Ana Mota Teles, especialista em Neuropsicologia do Hospital de São Francisco do Porto

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