Regresso às aulas e Ansiedade de Separação

A ansiedade de separação é uma realidade que enfrenta?

A Dra. Inka Cuevas, psicóloga do Hospital de São Francisco do Porto, oferece-lhe dicas para minimizar o impacto.

Este fenómeno é bem real e afeta de modo diferente as crianças, desde as que revelam sintomas de histeria, desde as que uma vez separadas, ainda que por um curto espaço de tempo da mãe, até aquelas que manifestam durante a infância uma ansiedade permanente no que diz respeito à separação, o que pode prolongar-se até à idade pré-escolar.

Existem algumas estratégias para ultrapassar as dificuldades de que os pais se devem apropriar, particularmente, quando ambos trabalham.

Como é obvio, uma preparação ajuda, assim como transições rápidas e o fator tempo. No caso de um primeiro filho, a abordagem exige mais atenção comparativamente a situações em que já exista uma fratria e experiência do casal.

O começo das aulas oferece imagens de tristeza a uns e de alegria a outros por reencontrar a camaradagem e amizade. Trata-se de uma mudança repentina na vida a que estavam habituados. Uma das hipóteses para os pais é tornar este momento o menos traumático e o mais alegre possível.  Os pais devem criar a ilusão de uma despedida breve e feliz. O aspeto lúdico deve entrar em linha para motivar a criança – o “até já” sob a forma de um jogo protetor e ligeiro sem acentos dramáticos. A despedida tem de ser terna, mas firme. Trata-se do início de uma nova etapa na vida da criança que entra na sociedade ao sair da situação de bebé para abordar um mundo, no qual existem regras e que, o vão começar a compreender com a ajuda ativa dos pais e dos educadores.

Neste processo, o primeiro passo exige que os pais se adaptem à nova situação e não dramatizem uma despedida que deve ser breve e feliz. Aos choros corresponderá uma atitude de ternura e firmeza sem prolongamento. Uma ajuda importante consistirá em habituar a criança a outras situações de separação, tais como: deixá-la em casa dos avós ou de outros membros da família, com amigos, que poderão cuidar dela durante algumas horas ou ao longo de um fim de semana. É uma ótima oportunidade para praticar a rotina da despedida, muito antes que chegue a obrigação da separação. Assim, dá-se ao filho a hipótese de se preparar, de viver e de se desenvolver na ausência da figura paternal.

Se possível, uma visita ao local uns dias antes, contribuirá, para que a criança se familiarize antecipadamente com o espaço. Em casa a participação e a preparação entusiástica dos materiais ajudará com toda a certeza.

Também os hábitos de sono deverão ser organizados com alguma antecedência de modo a assegurar o tempo de descanso reparador necessário, bem como os horários de alimentação e o conteúdo das refeições.

Muitos elementos da vida quotidiana vão ser transtornados ao mesmo tempo. Para evitar que a soma destas alterações se converta em agressão, é importante manter uma atmosfera lúdica e evitar que a criança ouça comentários negativos sobre a escola.

A relação entre os pais e professores é outro pilar fundamental – os pais esforçar-se-ão por transmitir uma boa imagem aos responsáveis pelo ensino para que possam tirar o máximo proveito dos filhos. Desta forma evita-se o “efeito Pigmaleão” negativo, ou seja, a capacidade de uma pessoa influenciar com as suas crenças outros indivíduos. O professor é, portanto, ajudado no seu trabalho de reforço positivo para motivar o aluno.

Incutir na criança um espírito de confiança – falar-lhe em termos compreensíveis para a sua idade e manter as promessas feitas. A criança assimilará que a promessa de voltar para junto dos pais será respeitada e desenvolverá confiança e independência.

E não esqueçam a regra base – o adeus deve ser sempre curto e simples.

O prolongar da despedida tem sempre como corolário o prolongar da transição e da ansiedade.

Artigo redigido pela Dra. Inka Cuevas,

Especialista em Psicologia do Hospital de São Francisco do Porto

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