Desafios alimentares após o 1.º ano de vida

A Nutrição das crianças pode ser um verdadeiro desafio para os pais.

A Dra. Joana Vanessa Silva, especialista em Pediatria do Hospital de São Francisco do Porto, indica-lhe as principais recomendações a ter em conta nas várias opções nutricionais.

Os hábitos alimentares estabelecidos durante a infância tendem a persistir até à idade adulta, sendo fatores determinantes na expressão do potencial de cada criança em termos de crescimento e de desenvolvimento. É também nesta fase precoce que se verifica a programação de doença crónica do adulto.

A integração na dieta familiar ocorre após os 12 meses, sendo importante manter uma oferta variada dentro dos diferentes grupos de alimentos, dando continuidade ao treino de sabores e texturas, contrariando a neofobia alimentar. Este comportamento, característico entre os 18 e os 24 meses de vida, relaciona-se com a dificuldade em aceitar novos alimentos. Tanto o aleitamento materno, como a exposição precoce e repetida a novos alimentos parecem reduzir o risco deste tipo de comportamento se tornar patológico. É essencial explicar aos pais que uma criança necessita em média de 11 exposições a um determinado alimento para que este venha a ser aceite. A persistência da oferta é fulcral para que a dieta alimentar seja a mais equilibrada e variada possível.

Outro aspeto importante relaciona-se com as atitudes parentais relativamente à alimentação. As evidências recentes sugerem que uma atitude rígida ou demasiado permissiva terá menos sucesso. Os conflitos gerados durante as refeições não são de todo a melhor opção e poderão agravar este tipo de comportamentos.

Perante uma dieta familiar vegetariana, particularmente nos primeiros anos de vida, é importante garantir o aporte energético e o equilíbrio em macro e micronutrientes, bem como a vigilância do crescimento e maturação da criança. Pode ser necessária a suplementação em micronutrientes (ferro, vitamina D, vitamina B12 ou zinco), se as necessidades nutricionais não forem atingidas através da alimentação.

Após o 1º ano de vida verifica-se também uma desaceleração da velocidade de crescimento na qual se apoia a anorexia fisiológica do 2º ano de vida, que pode constituir motivo de grande preocupação para os pais e família. Tal como a sua designação indica, é um comportamento fisiológico e adaptativo à redução das necessidades nutricionais observadas nesta fase, sendo frequentes as flutuações do apetite e até um certo desinteresse pelos alimentos.

Outro dos desafios relaciona-se com o consumo de produtos lácteos (leite, iogurte e queijo), que não deve exceder os 500 ml/dia e nunca nas refeições principais pelo risco de deficiência em ferro. O leite de vaca pode ser introduzido, como fonte láctea principal, a partir dos 12 meses, muito embora haja vantagens em manter o aleitamento materno ou o uso de uma fórmula infantil de baixo teor proteico até aos 24 a 36 meses de vida.

As bebidas vegetais, como a de soja, amêndoa ou aveia, não devem ser introduzidas antes dos 24 meses (idealmente após os 36 meses), nunca em substituição de uma fórmula infantil, e no caso da bebida de arroz após os 5 anos.

Artigo redigido pela Dra. Joana Vanessa Silva,

Especialista em Pediatria do Hospital de São Francisco do Porto

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