A mnemónica dos 3Fs na identificação AVC

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é o tipo mais frequente e mais reconhecido de doença vascular cerebral e é definido como um síndrome clínico (neurológico) de instalação rápida, caracterizado por sintomas e sinais focais devidos a perda de função cerebral de causa vascular, com duração superior a 24 horas, ou levando à morte sem outra causa aparente do que a de origem vascular.

No dia 29 de outubro assinala-se o Dia Mundial do AVC estabelecido com o objetivo de robustecer a mensagem de que esta patologia é prevenível e tratável, sendo fundamental que a população esteja preparada para identificar os sinais de AVC e, consequentemente, para contactar o número nacional e emergência (112), ativando a Via Verde do AVC. “Tempo é cérebro”, pelo que o tempo que decorre após o início dos sintomas é determinante para o sucesso do tratamento. Os 3F’s são utilizados como mnemónica para os sinais clássicos de AVC: Falta de força num braço, desvio da Face e dificuldade na Fala.

O AVC constitui um problema da maior relevância em termos de saúde pública, ameaçando vir a ser uma epidemia neste século, face ao aumento da longevidade (fator de risco não modificável do AVC) e ao aumento da prevalência dos fatores de risco vasculares em faixas etárias cada vez mais novas, como são exemplo a obesidade, a diabetes mellitus, o tabagismo, a dislipidemia e a hipertensão arterial. A população tem um papel fundamental na prevenção do AVC, que passa pela adoção de um estilo de vida saudável, cuidados alimentares e prática regular de exercício físico.

Em Portugal, o AVC persiste em ser uma das principais causas de morte, a principal causa de incapacidade de pessoas idosas e a principal causa de admissão hospitalar em muitos departamentos de Neurologia e/ou Medicina Interna. É a principal causa de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos. Os défices que decorrem das lesões cerebrais são a principal causa de incapacidade. As sequelas do AVC surgem a nível da comunicação (linguagem e articulação de palavras), da força muscular e do movimento e coordenação dos membros afetados, do equilíbrio, da marcha, do controlo de esfíncteres, da sensibilidade, da capacidade de deglutição, dos campos visuais, da realização de autocuidados. Tem, por isso, um enorme impacto a nível funcional, cognitivo, social, com implicações na vida de relação com os conviventes significativos.

Recursos importantes na assistência atual a doentes com AVC, de acordo com a evidência científica de estudos controlados e randomizados, recomendações para a prática clínica e opinião de peritos, incluem: prestação de cuidados em Unidades de AVC, abordagem multidisciplinar, e combinação de gestão efetiva da emergência (sala de emergência organizada, aderência ao diagnóstico e terapêutica no tempo-janela, terapia trombolítica intravenosa, monitorização de sinais vitais contínua, acesso craniotomia descompressiva e trombólise intra-arterial, acesso a equipa e sala de angiografia em caso de necessidade de trombectomia mecânica), com mobilização precoce e cuidados de reabilitação.

Dos profissionais que intervêm de modo a otimizar o tratamento e minimizar as sequelas, sublinha-se a intervenção dos Enfermeiros Especialistas em Reabilitação, desde a fase aguda, com a conceção e implementação de um plano de reabilitação personalizado, de acordo com o nível de comprometimento neurológico do doente e autocuidados afetados, ajustando-o ao longo de todo o processo de saúde/ doença. O Enfermeiro Especialista em Reabilitação acompanha o doente em qualquer contexto assistencial, por onde este possa ter necessidade de passar ao longo do seu processo de recuperação, nomeadamente no seu domicílio, onde envolve e apoia a família e prestador de cuidados, com treinos de capacitação para potencializar a independência da pessoa na execução dos autocuidados e no processo de reaprendizagem de novas capacidades.

O Enfermeiro Especialista em Reabilitação assiste, pois, o doente no seu processo de recuperação, com vista à sua máxima autonomia funcional, no sentido e manter a sua autoestima e qualidade de vida, provendo contributos para o seu desenvolvimento pessoal.

Domingos Malta
Enfermeiro especialista em reabilitação

Leave a reply